Salmo 113

Os termos Salmos e Saltério derivam da Septuaginta (LXX) – a tradução para grego das Escrituras Hebraicas levada a cabo na cidade de Alexandria, no Egipto, entre os séculos III a II a.C..

A palavra grega “psalmoi”, de onde vem “salmos”, traduz a palavra hebraica “mizmor”, usada em alguns títulos de salmos, com o sentido de cântico que acompanha a música de um instrumento de cordas. No entanto, o nome hebraico do livro dos Salmos é “Tehillim” (louvores). Se repararmos na palavra “tehillim”, podemos descortinar a presença das três consoantes que formam a palavra “hll” – “louvar” – da qual provém “hallel” com um significado semelhante e que é também o nome de uma oração composta pelos salmos 113 a 118, entoada nas grandes festas judaicas. O “Hallel” é provavelmente referido no episódio narrado em Mateus 26:30 e Marcos 14:26.

Outra palavra associada a louvor é “halleluyah” – louvai a Deus. Aliás, não é por acaso que o livro dos Salmos finaliza com cinco salmos (146-150), que começam e acabam todos com “hallelu” “yah”, uma ordem, que convoca para a adoração, chegando ao apogeu no salmo 150, o qual envolve toda uma orquestra adorando a Deus.

Com o avançar do cristianismo e debaixo da influência da Septuaginta, os sentidos de “psalmoi” e “tehillim” foram sendo alinhados, passando assim a conotar-se com “cânticos de louvor”, que é a forma como a maior parte dos cristãos olha hoje para o livro dos Salmos.

Os tipos predominantes de salmos são o de acção de graças, o de louvor, mas também o de súplica ou lamento. Aliás, a palavra “tephillot” – orações – que aparece como conclusão do salmo 72 poderá ter sido o título usado para uma colecção primitiva de salmos atribuídos a David.

E de facto, se repararmos com mais atenção, uma grande parte dos salmos são lamentos ou petições e expressam momentos em que o salmista está a atravessar uma profunda crise. No entanto, mesmo no meio da angústia a esmagadora maioria destes salmos ainda acaba por se transformar numa nota de louvor a Deus. A única excepção é o salmo 88, um salmo de lamento que chega ao fim com uma ideia de abandono e escuridão.

É, portanto, verdadeiro que um tom de louvor atravessa o livro dos Salmos, mesmo nos salmos de lamento, mas tal não se trata de uma qualquer forma de escapismo. Na realidade, se atentarmos à dinâmica do livro como um todo, quase apetece dizer que só é possível chegar a notas tão altas de louvor depois de experimentar as maiores profundezas do desespero e é importante ter isso em conta na moderna adoração.

Talvez numa próxima oportunidade possamos examinar com mais pormenor os diferentes tipos de salmos, mas hoje vamos deixar-vos com o Salmo 113, um salmo de louvor. O convite é para que o oremos pausadamente, refletindo na Palavra que chegou até nós enquanto comunidade através dos séculos e até cada um de nós individualmente, hoje. As palavras em itálico são as que Deus colocou no nosso coração enquanto “murmurávamos” este salmo, mas cada um poderá ser tocado de forma diferente e acabar por proferir outras palavras.

Salmo 113

1 Aleluia!
Louvem, ó servos do Senhor,
louvem o nome do Senhor!

Senhor, somos teus servos. Declaramos o Teu senhorio sobre a nossa vida, reconhecendo que Tu tens sido muito bom para connosco! Não apontas as nossas faltas, nem sequer nos tratas segundo os nossos pecados. Louvamos-Te, Senhor nosso, porque és um Deus compassivo e misericordioso, … porque atiras as nossas transgressões para tão longe de nós quanto dista o oriente do ocidente…

2 Seja bendito o nome do Senhor,
desde agora e para sempre!
3 Do nascente ao poente,
seja louvado o nome do Senhor!

Só podemos dizer bem do Teu nome. Dizemo-lo agora e queremos dizê-lo sempre, quaisquer que sejam os tempos que vivemos – de manhã e à noite e em todo o tempo pelo meio; na força da juventude e na fragilidade da velhice.

Tu és bom, Senhor! Tu nos sustentas no momento em que somos formados e nos carregas até os nossos cabelos estarem todos brancos. Tu és fiel! Tu és Deus forte e poderoso! Sim, bendizemos o Teu nome, que é sobre todo o nome!

4 O Senhor está exaltado acima de todas as nações;
e acima dos céus está a sua glória.
5 Quem é como o Senhor, o nosso Deus,
que está assentado nas alturas,
6 e se inclina para contemplar
o que acontece nos céus e na terra?

Lembramos as Tuas palavras através do profeta Isaías: “O céu é o meu trono e a terra o estrado dos meus pés.” Sim, todo o Universo é Teu e proclama a Tua glória. Nada, nem ninguém se assemelham a Ti, Senhor. Nada, nem ninguém podem tomar o Teu lugar!

Perdoa-nos, Senhor, quando nos esquecemos de quem Tu realmente és, quando olhamos para outros senhores à procura de auxílio e salvação, quando Te buscamos somente com os nossos lábios, mas os nossos corações seguem caminhos que não são os Teus… Perdoa.

Do Teu trono majestoso, Tu tudo vês. Nada Te escapa. Tu levantas os olhos e tudo vem à luz.

Tu és El Elyon, Deus Altíssimo e és El Roi, o Deus que vê. Tu és Aquele que se inclina em direção aos teus servos para os auxiliar e salvar!

7 Ele levanta do pó o necessitado
e ergue do lixo o pobre,
8 para fazê-los sentar-se com príncipes,
com os príncipes do seu povo.

Oh Senhor, louvamos-Te pela tua misericórdia para connosco. Não há lugar mais escuro ou imundo, onde Tu não nos encontres. Não há situação mais desesperada, da qual Tu não nos possas erguer. Não há desejo mais profundo no Teu coração, do que nos sentirmos inundados, completamente encharcados pelo Teu amor, pela Tua água viva, pela Tua presença em nós.

Sim, bom Deus, se Tu Te dás a todo este trabalho por nós, Teus servos,… por mim, quem sou eu para rejeitá-lo? Eu aceito, Senhor! Aceito o Teu perdão, a Tua dádiva de amor em Jesus, o dom do Teu Espírito em mim. Aceito o Teu chamado – irei para onde quer que me enviares e sentar-me-ei junto de quem quer que me coloques.

9 Faz a estéril assentar-se no seu lar,
uma feliz mãe de filhos.
Aleluia!

Tu és um Deus de vida. Por momentos, podemos viver tempos de sequidão e morte, mas Tu prometes vivificar-nos. Tu nos mandas ampliar a nossa tenda e acolher todas as bênçãos que tens para nós. Tu nos dizes, como à mulher estéril: “Não temas, não serás envergonhada, nem serás humilhada… pois o Teu Criador é o teu marido.”

Senhor, por tudo isto nós Te louvamos e bendizemos.

Somos teus servos, mas Tu nos chamas de amigos e nos cobres com a tua infinita bondade.

Somos servos, mas Tu nos revelas o quanto nos amas, dando a Tua vida por nós.

Somos servos, mas Tu nos acolhes como filhos e nos dás o Teu reino por herança!

Oh Senhor, Bom Pai, Mestre Amado, Santo Espírito, nós Te louvamos e bendizemos!

José e Marta Pego e Pinto

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