Os tempos que vão correndo mostram, se é que alguma dúvida ainda persiste, que precisamos uns dos outros para sobreviver.
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
Este pensamento atribuído a John Donne, e retomado mais tarde por Ernest Hemingway no seu romance “Por quem os sinos dobram”, revela o quanto a vida de todos nós é interdependente. Mas viver com o outro é sempre uma luta, um confronto, que exige uma constante aprendizagem. Uma existência essencialmente relacional não é fácil e podemos experienciar essa realidade na vida que todos levamos. O texto que proponho hoje para nossa meditação encontra-se em Provérbios 3:21-35 e revela-nos como necessitamos de sabedoria para vivermos com os outros.
Desafio-vos à leitura meditativa do texto para extraímos dele a sua imensa riqueza. Para isso, deixem-me adiantar alguns tópicos.
v. 21-26
Mais uma vez assistimos à forma recorrente de um pai dirigindo-se ao seu filho, apresentando a sabedoria com o bem mais precioso.
O medo está por toda a parte, Aquele que procura a sabedoria divina, não viverá dominado pelo medo, apesar dos tempos difíceis e das incertezas. Mas, porque ”guarda a verdadeira sabedoria e o bom senso”, andará seguro, nada temerá quando se deitar e terá um sono suave. Não temerá o pavor repentino, inesperado. Não porque as ameaças tenham desaparecido ou não haja perigo. Na verdade, este pai sabe que o seu filho vai ter que viver num mundo ameaçador, mas sabe também que o seu caminho não depende de circunstâncias, “Porque o Senhor será a tua confiança”.
v. 27-30
Como desde cedo aprendemos, o ser humano foi criado à imagem de Deus. É à luz desta verdade que devemos encarar o nosso próximo, aquele que está mais perto, ao alcance da nossa influência, vendo nele a imagem do próprio Deus.
O amor a Deus revela-se no amor ao próximo. O texto mostra-nos de forma muito prática como nos devemos tratar o outro:
- Se estiver na tua mão fazer o bem não o negues a quem dele necessite.
- Se tens algo para dar, não o adies.
- Não planeies fazer mal ao teu próximo.
- Não entres em conflito com o teu próximo sem motivo.
v. 31-35
Somos prevenidos, uma vez mais, contra o homem violento. Aquele que tem a sua fé no Senhor não o deve invejar nem seguir os seus caminhos.
Esta passagem diz-nos que Deus é amigo dos que andam em retidão. Sabemos como a palavra “amigo” tem sido desvalorizada. Desejamos verdadeiras amizades, mas também sabemos como a amizade verdadeira é um bem precioso num mundo dominado por egoísmos. Mas mesmo que os amigos nos abandonem, que bênção é podermos ter o Senhor como nosso amigo, que nunca falha, Lembremo-nos que Deus é perfeito. Ele é fiel. Queremos nós também ser amigos deste Deus que nos amou sem o merecermos, mantendo a fidelidade a esta amizade, independentemente das circunstâncias?
Ele promete-nos a bênção, a graça e a honra.
Mais uma vez, este livro realça a necessidade de uma escolha. Sempre o dilema da decisão entre o caminho de Deus e o caminho do mal. Uma escolha enquadrada por uma propensão para o mal que o próprio texto não raramente sublinha. Naturalmente reconhecemos que o ideal que se nos apresenta está para além das nossas capacidades. Mas este livro essencialmente prático também mos desvenda a forma de lá chegar. Regressemos ao início deste capítulo 3 que antecede este texto:
5 Confia no Senhor de todo o coração, e não no teu próprio entendimento. 6 Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. 7 Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme o Senhor e desvia-te do mal. Provérbios 3:5-7
Este texto baseou-se em parte na lição 3 da revista da Escola Bíblica Dominical para este trimestre, editada pela CEBAPES-Livraria Baptista. Ainda existem alguns exemplares que estão disponíveis na mesa de entrada do salão de cultos, onde poderás obter um exemplar.
José Alves