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Salmo 90

Na semana passada, tivemos a oportunidade de mencionar que o Livro dos Salmos é na verdade uma colectânea de 5 livros e falámos em traços gerais dos 2 primeiros volumes desta colecção. Esta semana, vamos prestar mais atenção ao Livro III, que vai do salmo 73 ao salmo 89.

Terminámos na semana passada com o salmo 89 dizendo que, apesar da sua angústia – “Ó Senhor, onde está o teu antigo grande amor, jurado a David pela tua fidelidade?…” (Sl 89:49-50) – ainda havia esperança para os descendentes de David.

Com o Livro IV, dos salmos 90 a 106, é ainda uma nova perspectiva que é alcançada. O povo olha novamente para Moisés, a quem é atribuída a oração que representa o salmo inicial desta colecção, o salmo 90. Aliás, Moisés vai estar em foco nesta parte do livro, sendo mencionado 7 vezes em 5 salmos, (90, 99, 103, 105, e 3x no 106). Há uma ideia forte neste salmo e na maioria dos outros que se seguem: Deus está no controlo quaisquer que sejam as circunstâncias.

Fragilidade e finitude humanas são contrapostas à força e eternidade divinas e é no salmo 90 que encontramos passagens como: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração. … de eternidade em eternidade tu és Deus. Tu reduzes o homem ao pó dizendo: Voltai ao pó, ó filhos dos homens. Pois mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou e como a vigília da noite.” (Sl 90:1-4) Perante a impotência humana e a soberania de Deus, Israel escolhe voltar-se para o seu Rei Eterno.

Entre os salmos 93-99 encontramos os chamados salmos de entronização com a afirmação; “o SENHOR reina”! Com o fim da monarquia parece que há um apelo para que Israel se volte para aquele que é o seu verdadeiro Rei. No fundo, trata-se de estabelecer o Reino de Deus! Nestes salmos encontramos também outros motivos: Deus é justo e retribui as injustiças cometidas; o Senhor é a nossa rocha; Deus é o Senhor da criação; a experiência do Êxodo; avisos para que o povo não volte a testar Deus; futilidade da confiança em ídolos e real impotência dos reis das nações perante Deus.

Para além dos já mencionados, podemos fazer uma breve menção aos outros salmos que constituem esta colectânea. Assim sendo, temos:

O salmo 91 – um salmo de confiança sobre a possibilidade de encontrar refúgio em Deus; o salmo 101 – um salmo sobre a necessidade de saber exercer a justiça e procurar a presença do puro de coração; o salmo 102 – um salmo de lamento que é também um salmo de penitência e um pedido de restauração de Sião pelo Senhor, e o salmo 104 com a sua ênfase no Senhor como Criador.

Aproveitamos ainda esta oportunidade para fazer menção a duas formas de salmos, que poderemos não vir a ter oportunidade de ver com mais atenção na parte que dedicaremos à sua diferente tipologia. Estes dois tipos são: o louvor declarativo e os salmos narrativos ou históricos que procuram instruir Israel com base na sua história.

Como tal, encontramos nesta parte do livro três salmos – o 92, o 100 e o 103 – chamados salmos de louvor declarativo, caracterizados pela seguinte estrutura: uma introdução onde o salmista expressa a sua intenção de louvar a Deus, uma secção principal onde ele narra a sua experiência de libertação e uma conclusão onde ele novamente testemunha o gracioso acto do Senhor ou profere uma homilia para a congregação.

E também dois salmos narrativos, o 105 e o 106, semelhantes ao 78 mencionado a semana passada, que relembram a narrativa bíblica desde o tempo de Abraão até à experiência do exílio (enquanto que o 78 termina a sua recapitulação na aliança davídica). O salmo 106 expressa antes da benção final, um pedido: “Salva-nos, ó Senhor nosso Deus e congrega-nos dentre as nações, para que rendamos graças ao teu nome santo, e nos gloriemos no teu louvor.” Deus foi o refúgio de Israel no passado, muito antes de a monarquia existir, Ele vai continuar a ser o refúgio de Israel agora que a monarquia chegou ao fim.

Para a semana veremos por fim o Livro V. Por hoje, deixamo-vos com uma oração inspirada no salmo 90.

Salmo 90

1 Senhor, tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração.

Senhor, não há ninguém como Tu! Temos meditado na realidade de seres a nossa luz, a nossa fortaleza, a nossa rocha e a nossa salvação. E hoje afirmamos, com o salmista, que tu tens sido o nosso refúgio! Desde os tempos antigos até aos dias de hoje, o Teu povo volta-se para Ti para encontrar abrigo, proteção e conforto. Tu és o nosso refúgio, pois…

2 Antes que nascessem os montes, ou que tivesses formado a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade tu és Deus.

Tu és o nosso refúgio, porque nunca mudas. Tu és o mesmo hoje, ontem e amanhã. A Tua eternidade é algo incompreensível para a minha mente… Antes que tudo o que conhecemos existisse, Tu já eras… Tu és o alfa e o ómega, o princípio e o fim. Não compreendo, mas aceito por fé que Tu, Senhor, és Deus – Deus Criador de todas as coisas – Deus Sustentador de tudo o que existe, inclusive da minha vida – Tu és Aquele de quem o Apóstolo Paulo escrevia “porque dele e por ele e para ele são todas as coisas. Glória a ele eternamente.”

Glória a Ti, eterno Deus!

3 Tu reduzes o homem ao pó, e dizes: Voltai ao pó, filhos dos homens!

Contrastando com a Tua eternidade, a nossa natureza é finita, breve, passageira. Quantas vezes me esqueço disso e vivo como se tudo fosse garantido e nada, nem ninguém, tivesse um fim… Sonda o meu coração, Senhor, e mostra-me quando peco por orgulho, quando me considero auto-suficiente, quando passo por cima dos sentimentos dos outros, quando não assumo as minhas culpas, quando peco por omissão…

4 Porque mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite.

5 Tu os levas como por uma torrente; são como um sono; de manhã são como a erva que cresce;

6 de manhã cresce e floresce; à tarde corta-se e seca.

Sem Ti, meu Deus, a vida passa como um suspiro, como um sonho, que rapidamente se desfaz ou perde o sentido quando acordamos. Mas contigo sabemos que pertencemos à eternidade e esta vida tem significado, que aquilo que aqui fizermos em prol do nosso próximo, do Teu reino, da Tua criação, tem valor e não é vão. Tu prometes recompensar o nosso trabalho aqui. Obrigada, Senhor, por esta promessa – apesar da nossa vida aqui ser fugaz e passageira, algo permanece pela eternidade, algo que Tu recompensarás e tornarás completo.

7 Pois somos consumidos pela tua ira, e pelo teu furor somos conturbados.

8 Diante de ti puseste as nossas iniquidades, à luz do teu rosto os nossos pecados ocultos.

Mais uma vez, sou recordada que não posso esconder-Te nada. Todas as coisas boas e más são apresentadas perante Ti, como se eu fosse levada a juízo. E porque Tu és eterno e santo, só posso esperar ser condenada e consumida pela Tua ira. Sou pecadora, Senhor. Tu, que me conheces no íntimo do meu coração, sabes que não sou merecedora de nada… Não posso sequer estar na Tua santa presença…

9 Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; acabam-se os nossos anos como um suspiro.

Não quero que este dia passe, sem Te confessar o meu pecado. Atende à minha oração… e perdoa!

11 Quem conhece o poder da tua ira? e a tua cólera, segundo o temor que te é devido?

13 Volta-te para nós, Senhor! Até quando? Tem compaixão dos teus servos.

Tu terias o direito de nos condenar, pois somos tuas criaturas rebeldes, teus filhos desobedientes… Mas a Tua ira é uma ira de imensa compaixão. O mesmo poder que poderia destruir-nos é o poder que Tu usas para nos redimir! Sim , Tu te voltaste para nós! Para que não sofressemos o castigo da nossa desobediência, Tu te esvaziaste, tomando a forma de servo em Jesus, e morreste na cruz em nosso lugar. Quão grande amor e que imensa e maravilhosa graça!

Quero meditar neste Teu amor incrível por nós – por mim – que me reconcilia contigo e que me permite que vá à Tua presença , e diga Abba,… Paizinho!… Muito, muito obrigada, meu Pai! Obrigada, Jesus, por redimires a minha vida com a entrega da Tua vida! Obrigada, Santo Espírito, por seres o Paracleto – defensor e consolador da minha alma.

10 A duração da nossa vida é de setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado; pois passa rapidamente, e nós voamos.

12 Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios.

Cada dia conta, cada momento tem valor, pois cada hora é um tempo que Tu, Senhor, podes usar para me mostrares o Teu amor, para me ensinares e corrigires e para me libertares daquilo que me impede de ser mais humana, mais de acordo com o Teu desenho para mim.

Senhor, ensina-me a viver cada dia consciente de que sou frágil e finita, mas que sou Tua filha, co-herdeira com Jesus Cristo do Teu reino, que é de eternidade em eternidade.

Dá-nos essa consciência hoje para sabermos como aproveitar e ordenar os dias que ainda temos. Que possamos alcançar corações sábios…

14 Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que nos regozijemos e nos alegremos todos os nossos dias.

15 Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal.

Sim, que desde o amanhecer, até ao pôr-do-sol eu possa andar nos Teus caminhos. Que pela manhã já esteja a saciar-me com a Tua bondade, que me dá esperança e alegria. Que ao sentir-me cheia do Teu amor, esse amor e esse gozo possam transbordar para aqueles que estão à minha volta.

Levo até Ti aqueles que contam comigo para os ajudar… Fortalece-me para que eu seja realmente um instrumento da Tua paz, do Teu amor, da Tua alegria…

16 Apareça a tua obra aos teus servos, e a tua glória sobre seus filhos.

Recordo a Tua obra a favor do Teu povo – como o libertaste da opressão dos egípcios, como foste com ele durante os anos do deserto, como providenciaste o se mantimento e como os guiaste até à Terra Prometida, uma terra que emanava leite e mel… Recordo também a Tua obra a meu favor, como tens sido o meu refúgio desde que me lembro…

Que o Teu poder e a Tua glória se manifestem uma vez mais na minha vida, na vida da minha família, nesta comunidade a que pertenço.

17 Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos.

Não Te pedimos mais dias de vida, nem mais horas no nosso dia, antes sujeitamos cada dia, cada momento a Ti e à Tua vontade. Submetemos tudo a Ti, Senhor – o nosso lar, as nossas responsabilidades como pais e como filhos, como trabalhadores ou estudantes, as nossas decisões, os nossos bens. Confirma a obra das nossas mãos. Sim, abençoa-nos, Senhor!

Em nome de Jesus, oramos.

Amém.

José e Marta Pego e Pinto

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