A hora tinha chegado. Jesus foi preso, ou melhor, ofereceu-se aos seus captores e a farsa começou. Não houve um julgamento que resultou em condenação mas sim uma encenação de julgamento, com atropelo da legalidade, para dar corpo à determinação que os líderes judeus tinham há muito de eliminarem Jesus. Houve testemunhas falsas (Mateus 26:59-60) e manipulação acusatória para que Pilatos se visse forçado a decretar a pena de morte – direito que Roma reservava para si.
Houve mentira, houve violência, houve escárnio, houve ódio. Homens preocupados com a pureza cerimonial – era preciso estarem adequadamente preparados para a celebração da Páscoa – e ao mesmo tempo loucos de ódio contra o Cordeiro. Sacerdotes israelitas a blasfemarem “Não temos rei, senão César”!
Riram-se de Jesus flagelado e mascarado de rei – mas Ele tudo suportou com real majestade. Pilatos, reticente a sentenciar a crucificação, apontou-o à multidão no seu corpo torturado e impotente, um pobre e indefeso homem (eis o homem – valeria a pena temer e matar pessoa tão desgraçada?) – mas em tudo Ele mostrou ser o Homem perfeito.
E entre silêncio e dores – que nos aflige imaginar – houve ainda palavras que devemos reter:
O meu reino não é deste mundo…
Isto é real para nós? Sentimos de facto que, com Jesus, não somos mais daqui e de agora e que, por isso, aqui e agora devemos ser, estar, pensar, trabalhar de acordo com o reino de onde somos?
… disse-lhe Pilatos. “Então tu és rei?”. Jesus respondeu: “Tu dizes que sou rei. Eu nasci para isto e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.
Diz-se que a verdade tem um preço. Jesus pagou um alto preço não para a ter – Ele é a verdade – mas para no-la mostrar. Apeguemo-nos à verdade, assim oferecida com tanto amor, pois que valor tem uma vida vivida sem verdade?
Leni Alves